Silvio Marques
A base de toda a existência é o pensamento, a mente, o verbo. Só se manifesta em nossa vida aquilo que reconhecemos. E o que pode reconhecer todas as “coisas” do existencial é tão somente o pensamento. Se olharmos para um sofá vazio, naturalmente reconheceremos que ali naquele sofá não há a presença de ninguém. É o nosso pensamento quem reconhece e autentica a ausência de um alguém. Entretanto, pelo ponto de vista daquela “pessoa que não existe” no citado sofá, nós também não existimos. Não existimos para “ela” porque falta-lhe o pensamento para reconhecer nossa existência. O que existe, portanto, é o pensamento, a idéia. No Gênesis denomina-se “Verbo”... “que se fez carne (manifestou presença, materializou-se) e habitou entre nós”. Infelizmente os religiosos afirmam, equivocadamente, ser esta apenas o aparecimento do Cristo.
Assim sendo, tendo o pensamento como o fator determinante do existir; se em qualquer situação utilizarmo-nos deste misericordioso dom, e somente recolhermos (reconhecermos) os elementos que encerram o Bem, nossa vida será sempre preenchida com abundância de paz. Jesus disse: “Seja-te feito conforme credes!” Ou seja: ... “será conforme reconheceres!”
Até mesmo nas circunstâncias mais dramáticas, dolorosas ou constrangedoras podemos recolher elementos substanciosos de Bem. Mas acontece que, ao contrário do que deveria, temos comumente o mal hábito de nos ater, de registrar, de nos fixar somente nos elementos negativos de uma situação. Por exemplo: se alguém nos ofende, nos fere moralmente; a reação que nos salta aos sentidos é a de querer enfrentá-lo como a um odioso e irremediável inimigo. Pensando bem, quem impõe esta reação é o sentimento chamado orgulho, e que infelizmente habita o coração da grande maioria. Este sentimento parece ser o guardião da honra e da moral. Mas na verdade não passa de um “grosseiro impetuoso” que conduz as pessoas aos conflitos. A propósito, quem tem honra e moral alicerçados na justiça e no amor, normalmente não se conflitam com ninguém. Não se conflitam porque a própria austeridade descarta a presença de um orgulho guardião e defensor. Essas pessoas tem serenidade, humildade e convicção. Não obstante, diante de tal situação de conflito devemos seguir a orientação de Cristo quando disse: “Daí o outro lado da face”. O outro “lado da face” a que ele se refere (para esse caso) e que se contrapõe à ofensa, é a face do amor. Portanto quando alguém lhe ofender, ore por ela, perdoe, tenha compreensão. Isto é dar o outro lado da face e é recolher elementos de Bem. Sei que não é fácil, mas é o mais recomendável para quem quer plantar boas sementes e colher o bem.
Todas as situações são fartas oportunidades de absorção dos elementos substanciosos de Bem. Transcender a ofensa é transcender o mal. Orar pelo ofensor (“inimigo”) é exercitar o amor e colher dos seus bons frutos.
O homem tem sede de coisas boas, tem sede do que é bom, do que é melhor porque a sua origem é divina. A nossa origem é o que há de melhor. Na essência, na origem, no âmago de nosso ser existe o que há de melhor, mais puro e autentico. Entretanto, muitos são os sentimentos ilusórios de valores mundanos que se contrapõe ao sentimento natural; porisso perdemos a liberdade e autoridade por Deus legada e “somos expulsos do paraíso” (vide Gênesis). Com esse distanciamento de Deus (A origem) viveremos em razão disso, algemados às dúvidas, às desconfianças e incertezas. Mesmo num riacho de águas cristalinas, algumas pessoas, ainda que extremamente sedentas, não matam a sua sede porque olham desconfiadas para a lama que está no fundo de seu leito e sentem alguma repulsa. Ora! A lama no fundo está tão visível exatamente porque a água é cristalina. Ela, a lama, está ali porque tem a sua razão de estar. Mas o que importa mesmo para quem tem sede é a água pura, a água da vida que corre abundante e límpida acima de toda lama.
Visualizar somente o Bem é beber da água cristalina sem se importar com a lama do “rio”. As lições do dia a dia são compostas de “água e de lama”. Com a mente (o pensamento) sábia, justa e amorosa podemos filtrá-las, separá-las ou transcende-las e recolher o que há de melhor para o nosso aprimoramento e vivência feliz.
“Visualizar somente o Bem”. Eis a chave do paraíso.
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