Silvio Marques
Todas as pessoas tendem a separar as coisas espirituais das coisas materiais. Ainda que muitos não dêem a menor “bola” para as coisas do espírito, fazem automaticamente essa distinção. Essa tendência mostra que a humanidade nasce e vive se vendo matéria. Alguns até entendem que somente após a morte nos tornaremos espíritos.
Jesus disse: “A César o que é de César... a Deus o que é de Deus”. Ou seja: “ao rei material o que é do rei material, e ao “Rei” espiritual o que é do Rei espiritual”. Não obstante, isso não representa uma recomendação para que vivamos a matéria dissociada do espírito. Ainda que vivendo na matéria, somos seres essencialmente espirituais, já, no presente momento, no agora eterno. Portanto, não precisamos separar a todo tempo o material do celestial. Ainda porque, quem separa (ou ajunta) é o espírito. Mesmo que não possamos dar a Deus o que é de César (matéria), podemos dar a César (ao mundo) o que é de Deus. Amor. Isto é o que é de Deus. E não há nenhuma possibilidade, nenhuma situação em que não se deva dar amor. Nenhuma ação pode ficar “separada” do amor. Se você tiver de executar uma ação, qualquer que seja, onde não possa envolver o amor, não a realize. Despreze-a. Não haverá de ter nenhuma serventia para Deus. E poderá determinar a sua desgraça.
Quando falamos em Amor, devemos sempre substanciá-lo com outros sentimentos que com ele se consolidam. O sentimento de Justiça, de Solidariedade, de Fraternidade, de Compreensão e Honestidade; são alguns sentimentos da “receita” com que se concretiza o Bem, e que incorporam o Amor.
Se alguém não concorda que deva colocar Amor nas relações do dia a dia; pois que não coloque. Se não concorda que deva colocá-Lo nas relações pessoais, sociais, comerciais, profissionais, por não achar que seja compatível; que não o faça. Este será o seu pecado e a sua ruína.
Geralmente os homens declinam do convite: “Vá; venda tudo que tem; distribua entre os pobres e me segue”.
Nesta passagem bíblica dos evangelhos de Cristo, ele desejava aquele rico jovem como mais um de seus missionários. E estes chamamentos não são por acaso. Certamente Jesus viu naquele homem um brilho que só os mais elevados têm. Pediu que o acompanhasse porque precisava dele em presença (fisicamente) para construir a sua obra. E para isto era necessário desfazer-se literalmente de seus comprometimentos em nome da missão. Entretanto essa situação foi específica para aquela pessoa. Não é preciso entregar tudo o que temos conseguido para servir a Deus. Mais que isto: não é preciso entregar nada. Mas é absolutamente necessário segui-lo.
A propósito disso, quero esclarecer que não estou arregimentado homens para Jesus (ou para mim); mas sim, sugerindo que a humanidade ame mais. O mundo precisa de mais amor.
Embora já tenham sido gastos oceanos de tintas anunciando, argumentando, contra-argumentando as “coisas” de Deus; as doutrinas, suas linhas filosóficas, seus deuses e anunciadores; penso que os autores, pelos séculos de argumentos contraditórios entre si, acima de tudo têm proporcionado ao mundo uma grande confusão, e que só faz aumentar.
As pessoas têm perdido muito tempo para identificar “a boa” palavra, a “verdadeira”. E a conseqüência disto é o prolongamento de seus sofrimentos; e o atraso no desenvolvimento do espírito; a ignorância espiritual em que o povo vive.
Na verdade, tanto esse povo quanto alguns autores ainda não compreenderam que “o Verdadeiro”, o Divino está em cada um. É particular. É individual. É interior. Se cada um ouvir o que vem de dentro, automaticamente poderá expulsar o que veio de fora e, enfim, se encontrar. Por isso Jesus disse: “... ao orar, entre em seu quarto (volte para dentro de si) feche a porta e ore”.
Muitos já foram seduzidos pelos ouvidos, e o “reino” que encontraram foi uma lamentável decepção. Por isso, desconfiados e em nome da prudência hoje vivem “de banca em banca”, de “árvore em árvore” buscando o fruto prometido. Mas como não despertaram; como ainda não observaram que quem identifica um fruto bom é o próprio paladar imanente no seu ser, acabam se deixando seduzir pelos “mercadores”. Mercadores, sim, porque os fiéis são vistos muitas vezes apenas como “clientes” pelos religiosos. Não são vistos como seres a serem despertos para o divino, alvos de nosso amor. Haja vista que muitas organizações religiosas exigem rigorosamente “o imposto de Deus” (o dízimo). Entretanto, e nem com tanta veemência, apenas insinuam “o tempo de Deus”. O tempo para se dedicar “as coisas” de Deus é dízimo também. O tempo para Deus são os momentos dedicados aos estudos; é a dedicação ao conhecimento e a viver os ensinamentos cotidianamente.
Porque não é exigido com o mesmo rigor das ofertas financeiras duas horas e quarenta minutos diários para dedicação ao aprimoramento? É dez por cento também.
A oferta é um indício de amor a Deus, sim; mas quando ofertado por sincera gratidão. Identifique o Amor; eleja-o já, como sua “igreja”, sua “doutrina”, sua oferta. O Amor é a salvação. Não é o dízimo.
Aceite então este convite “Vá; venda tudo que tem; distribua entre os pobres e me segue”, com um novo entendimento:
“Vá” = pelo mundo afora, no seu dia a dia;
“Venda tudo o que têm;” = anuncie, publique os dons que lhe foram dados por Deus;
“e distribua...” = ame ao próximo e ao mundo em todos os seus atos;
“... entre os pobres... = aos que ainda não despertaram para o amor;
“... e me segue” = siga o Amor, o Bem.
O amor oferecido vinte e quatro horas diariamente é o Dízimo Pleno. Dêem isto ao mundo e o Reino se apresentará... Sem Ritos... Sem batismos... Sem formalidades... E sem mestres. Pois o Amor é que é o Mestre... E que é o próprio Reino.