01/08/2011

"O DIABO NÃO TEM RABO"

Silvio Marques

Certa vez estive comentando com um amigo a respeito da inexistência de demônios; principalmente no formato primitivo que determinados religiosos lhe deram. Qual seja: o diabo é um esperto e envolvente inimigo que, dissimulado, nos tenta arrastar para o mal.
Como figura ele foi “desenhado” assim: é preto, é feio, tem rabo, tem chifres, e é muito poderoso. E como ser, ele é a transformação de um anjo criado por “Deus”, mas que se voltou contra o bem”. Este é o formato que temos ouvido ao longo dos tempos.
Não firmei o palpite de que esta absurda formatação possa ter sido uma artimanha dos mesmos religiosos para atrair e “construir fiéis”; ainda que com a justificativa de que fosse para amenizar as suas dores. Particularmente não faço (e não fiz) tais afirmações porque, além de não desejar polemizar com ninguém, tenho as minhas vigorosas convicções, e respeito verdadeiramente a dos demais. Mas todos já ouvimos afirmações desse gênero, e que fazem sentido, sim.
Entretanto, seguindo por outras alternativas podemos ser levados a entender que se trata de ignorância religiosa, primitivismo, pouca espiritualidade, ou coisa assim. O que valida as afirmações acima.
O que entendo é que não devemos nem levar em consideração a possibilidade de aparição da figura (da imagem) do maligno diante de nós (já ouvi pessoas afirmarem que o viram). Essa possibilidade é absolutamente descartável. Isto porque, nada do que os nossos olhos carnais vêem pode ser espiritual. Sigamos sempre esta regrinha para nos libertar desses medos absurdos: “Matéria só vê matéria ... só espirito pode “ver” espirito.”
Quanto as suas ações (as do maligno), insistentemente tem sido servido pelas igrejas a idéia de que elas (as ações dele) atuam de fora para dentro; de que ele vem até nós para nos assediar e nos desviar do bom caminho. Assim como um ladrão que vem para furtar o nosso mais precioso tesouro.
Ora! Quem é possuidor de verdadeira fé; aquela inabalável convicção de se sentir Filho de Deus; de que Deus mora em nosso próprio interior; de que este Filho jamais morre, jamais perece; de que é constituído pelos próprios dons e vida do Pai e Criador; de que Deus e eu somos um; e de que tudo o que foi constituído por Deus é só Bem; com essa poderosa convicção que resplandece luz, treva alguma será capaz de penetrar. A escuridão jamais vencerá a luz. Entretanto, justificam-se os religiosos de que é exatamente para instalar essa fé nas pessoas que servem os seus argumentos. Penso que não precisamos despertar a fé com ameaças. Jesus disse: “A verdade vos libertará”. Ora! Se estou ameaçado pelo mal, então eu não sou livre.
Analisando cuidadosamente esse tão temido personagem dividindo-o em três partes, qual sejam: a figura; suas ações; o ser; podemos concluir que:

1 – A FIGURA: Porque tem uma imagem tão feia?
Resposta: Porque é uma figura desenhada pelos elementos criativos do medo, do temor, da fraqueza. E tem imagem horrenda simplesmente porque coisa bonita não assusta.

2 – SUAS AÇÕES: Porque ele vem até nós para nos tentar (ou atentar)?
Resposta: Na verdade tudo o que tem algum valor e encanto aos nossos olhos são considerados elementos de desejo (que está representado pela maçã naquele evento de Adão e Eva, citado no Gênesis). Entretanto, a tentação não esta na maçã; mas sim, no nosso desejo interior de possuí-la. Portanto, é no coração (interior) do homem que mora as tentações. ____ Mas é o diabo quem leva a culpa!
3 – O SER: Porque algumas religiões afirmam que o diabo foi um anjo bom que se virou contra Deus (contra o Bem)?
Resposta: As igrejas, aquelas que conceituam os homens como filhos do pecado; pecador; ser inferior e impuro; não seriam incoerentes em reverenciá-los como os verdadeiros anjos criados a Imagem e Semelhança de Deus. Mas acreditem, consta nos livros sagrados que fomos todos criados à Imagem e Semelhança do Pai. Entretanto, exatamente por sermos na essência os anjos bons criados por Deus, mas que não manifestamos no dia a dia toda a nossa pureza interior, todo o nosso incondicional amor, a nossa força, o nosso despretensioso senso de justiça; é que podemos ser denominados anjos da imperfeição ou anjos do mal; aqueles que desonram o bem, a criação.
O mal, o maligno, a tentação, é criado e nascido como fruto das nossas intenções. Temos sido nós mesmos os anjos do mal. Sempre que fugimos do maligno, estamos fugindo o tempo todo da nossa própria sombra má, que é uma falsa imagem.
Consta na máxima de certo Índio, que Deus criou um cachorro muito dócil, humilde e bondoso dentro da alma de cada homem. As ilusões do mundo, porém, criaram um outro cachorro com características mais agressivas, egoístas e possessivas. Perguntado ao índio qual dos dois caninos normalmente vence a briga dentro de cada um de nós; ele disse simplesmente: “Vence aquele a quem voce mais alimenta!”
Como vemos, é a nossa pouca fé, é a nossa ignorância e o nosso medo quem serve de “ração” para alimentar o cão indesejável.
E é por isso que digo: O diabo não tem rabo, não é feio, não é nada. Olhe para dentro de si e veja a “ração” que você se serve. Acima de tudo observe o sentimento que você alimenta.

Um comentário:

Anônimo disse...

Por quê buscar fora o que está dentro de nós? Se 'hominus lupus hominus'(o homem é o lobo do próprio homem), não temos motivos para temer uma criação humana específica, mas temer o ato de criar coisas horríveis e buscar o oposto, criar coisas possíveis e viver melhor. Adorei sua crônica! (Melissa).

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