Silvio Marques
Recentemente
um querido sobrinho comentou numa roda de amigos a meu respeito, tocando em meu
ombro e dizendo assim: “Difícil é tirar
este aqui do sério”!
Comentários
assim me trazem contentamento porque comprova a correta “direção” em que “guiei
a minha mente”, autenticando assim a minha serenidade.
O que
ele disse, pelo menos aparentemente, é pura verdade. Entretanto, a serenidade
demonstrada por mim em certas situações nem sempre autentica o sentimento que
se processou em minha mente diante da “proposta” (situação ou comentários) apresentada.
Quando tais “propostas” são desagradáveis (ofensivas, caluniadoras ou
desonrosas, por exemplo) brota sempre uma sensação incomoda, às vezes muito
dolorida, que faz até despertar a “flecha do revide”. É por isto que os
conflitos acontecem entre as pessoas. E em mim também se processa assim. ___ Afinal,
ainda estou humano!
Toda
ação promove uma reação. Isto é uma Lei tanto física como mental. Mas a lei não
estabelece qual reação deva ser adotada para cada situação circunstancialmente apresentada.
É como dirigir um veículo. Os buracos e tantas outras adversidades na estrada
aparecem de repente; e você tem que tomar uma decisão para não colidir,
atropelar ou cair no buraco.
Todos
querem aprender a dirigir um carro, uma moto, uma lancha. Guiar com competência
um veículo deslizando pelas estradas, é mesmo um grande prazer. Mas poucos são
os que se preocupam em tomar a direção da própria mente e exercitar isto, para
saber como deva “guiá-la” para desviar-se das adversidades da vida.
Veja
este diálogo entre um mestre e seu discípulo:
___ Mestre,
minha mente muitas vezes é invadida por pensamentos muito ruins quando ouço comentários
que me desagradam. Alguns desses comentários quase me roubam a serenidade e
promovem o desejo de revide. Isto me incomoda bastante porque macula a paz que
busco estar e em harmonia com o universo!
O Mestre, então, o interrompe
e lhe diz:
___ Filho, a
mente é um cavalo arreado que corre velozmente! Você deve descer do cavalo da
mente!
Rennan, o discípulo, então pondera:
___ Mestre, mesmo
assim vou continuar pensando! A minha mente vai continuar ativa! Como vou me
livrar dessas perturbações?
E o mestre lhe disse:
___ Quem na
verdade está galopando este cavalo não é a sua mente genuína! Mas sim, a mente
do orgulho, do ciúme, dos vícios, do medo, das dúvidas, dos conceitos e
pré-conceitos do homem! Tudo isto lhe apressa; te oprime, te cega! E você perde
muito da capacidade saudável de raciocinar e decidir com serenidade!
Devemos
todos observar que, estando galopando um cavalo ou guiando um veículo, não
temos o domínio total da situação, não somos o supremo mandatário. Temos boa
parte do controle, mas não o controle total. Com a nossa mente “galopante”
também se processa assim. Entretanto, se tomarmos “posse da direção” de nossa
mente (descer do cavalo) teremos o controle total.
Quando
eu ainda “estava com a mente à cavalo”, algumas vezes me peguei em conflito com
“as minhas mentes”. Assistindo um bom filme à noite, por exemplo, perdia boa
parte da trama porque uma parte de minha mente alertava que eu devesse dormir
porque teria logo cedo (dia seguinte) sérios compromissos profissionais. A
outra parte, entretanto, impunha que eu assistisse ao filme até o fim para
conhecer o epilogo e concluir o lazer. Como os meus compromissos profissionais
são, naturalmente, mais importantes do que um filme, foi aí que eu aprendi a
descer do cavalo da mente citado pelo mestre ao discípulo. Passei a dar
mentalmente o “grito de independência”, batendo no peito e dizendo: “Aqui quem
manda sou eu”. Este foi o grito da minha mente genuína. E assim também se
processa em quase todas as situações que vivencio. ___ Sim, quase todas!
Nenhuma
mania, nenhum vício, nenhum costume ou tentação deve poder raptar a sua Mente
Genuína para “dar um passeio galopante”. Nem mesmo uma grande paixão, ou até
mais do que isto, uma arrebatante devoção.
Eis
aí a fronteira entre o território dos fracos, e o território dos fortes. Eis aí
a fronteira entre o “falso”, e o Verdadeiro; entre o território das trevas, e
da Luz.
Existem
alguns hábitos providenciais a respeito do domínio da mente, tal qual “contar
até dez num determinado momento de iminente descontrole”, que nada mais é do
que um claro exercício do que seja “descer do cavalo da mente”. A diferença é
que descer do cavalo já (agora) transformando a nossa personalidade e
modificando nossos impulsos, é muito mais seguro do que circunstancialmente ter
a possibilidade de lançar mão da providencial atitude de contar até dez. Voce
poderá conseguir; mas, como bem sabemos, raramente conseguimos.
Devemos
nos matricular logo na “escola de habilitação” da mente. Conhecendo as leis
mentais e exercitando sempre a ação de descer do impetuoso cavalo, tornar-se-á
um hábito que refletirá na nossa personalidade. E assim, será muito mais
difícil nos “tirar do sério”.
Paz
esteja contigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário