Silvio Marques
A
fundação de Assistência ao Estudante (FAE), órgão do Ministério da Educação,
editou em 1984 um dicionário da língua portuguesa do qual algumas vezes me
utilizo como fonte de consulta.
Consultando-o
a respeito da significação da palavra penitência, extraí o seguinte:
penitência = arrependimento; dor do pecado; pena imposta pelo
confessor para remissão dos pecados; sacrifício para expiação dos pecados;
incômodo; tormento.
Por
razões religiosas, penso, esta palavra um dia será banida dos dicionários de
todas as nações. A penitência, irremediavelmente, será uma primitiva e absurda
prática do passado. Quanto ao seu significado, em qualquer época, penso que
“arrependimento” jamais foi seu sinônimo. Penitência quer dizer castigo,
punição para remissão ou expiação de pecados. Mas acontece que elas podem ser
cumpridas apenas em obediência a imposição do confessor ou por sua
recomendação; não em sinal de verdadeiro e devido arrependimento. Esta prática
se estende á séculos. Obedecendo a recomendação
do confessor, obtém-se algum alívio.
E é por isto que voltam a “pecar” outras vezes sem nenhum pudor; e também
voltam ao confessor em busca do mesmo alivio.
Felizmente,
como já não era sem tempo, hoje temos alguns pensamentos renovadores que não
dão valor algum a essas práticas de sacrifícios ou castigos para remir as
faltas. Ora! Que pai se sentiria reverenciado ou adorado somente ao ver, por
exemplo, o seu filho com os joelhos doloridos e sangrando, em razão de ter
subido ajoelhado vários degraus de escadas para agradá-lo? ____ Eu, que
certamente sou muito menos generoso do que Deus, simplesmente diria ao meu
filho: “porque você não tomou o elevador ou o teleférico”? ____ E Deus deve
pensar pesaroso: “Agora tenho duas tarefas: curar tua alma e curar teus
joelhos!”
Somente o sincero arrependimento pode anular
o pecado (o erro, a falta). Mas não precisa e nem é aconselhável que venha
acompanhado de imolações. Isso é o amargo fruto da ignorância.
O arrependimento é como a água, o pecado é como
a sujeira. Quando a “água” lava a “sujeira” ambos desaparecem e o que ressurge
é a imagem original. Que neste caso: a alma pura do individuo criado por Deus.
E para Ele é o que importa.
Que proveito há para um pai o sacrifício ou
penitência de seu querido filho? Fazer o que com essa “oferenda”? Ela não tem serventia nem para provar o
arrependimento do filho, nem para resgatar a sua culpa. Muito menos para
agradar um pai.
Somente o amor é oferenda. O sincero
arrependimento é manifestação do amor de Deus que constitui a nossa alma
original. Jesus disse tão somente: “vá, e não peques mais!” Ele não recomendou
penitencia alguma. Quando surge o arrependimento, no mesmo instante reluz essa
alma divina em nosso interior... E Deus “sorri” no ritmo do nosso alivio. Este
é o sintoma do perdão.
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