08/08/2014

PENITÊNCIA: NEM RESGATE... NEM OFERENDA

Silvio Marques
          A fundação de Assistência ao Estudante (FAE), órgão do Ministério da Educação, editou em 1984 um dicionário da língua portuguesa do qual algumas vezes me utilizo como fonte de consulta.
          Consultando-o a respeito da significação da palavra penitência, extraí o seguinte: penitência = arrependimento; dor do pecado; pena imposta pelo confessor para remissão dos pecados; sacrifício para expiação dos pecados; incômodo; tormento.
          Por razões religiosas, penso, esta palavra um dia será banida dos dicionários de todas as nações. A penitência, irremediavelmente, será uma primitiva e absurda prática do passado. Quanto ao seu significado, em qualquer época, penso que “arrependimento” jamais foi seu sinônimo. Penitência quer dizer castigo, punição para remissão ou expiação de pecados. Mas acontece que elas podem ser cumpridas apenas em obediência a imposição do confessor ou por sua recomendação; não em sinal de verdadeiro e devido arrependimento. Esta prática se estende á séculos. Obedecendo a recomendação do confessor, obtém-se algum alívio. E é por isto que voltam a “pecar” outras vezes sem nenhum pudor; e também voltam ao confessor em busca do mesmo alivio.
 
Felizmente, como já não era sem tempo, hoje temos alguns pensamentos renovadores que não dão valor algum a essas práticas de sacrifícios ou castigos para remir as faltas. Ora! Que pai se sentiria reverenciado ou adorado somente ao ver, por exemplo, o seu filho com os joelhos doloridos e sangrando, em razão de ter subido ajoelhado vários degraus de escadas para agradá-lo? ____ Eu, que certamente sou muito menos generoso do que Deus, simplesmente diria ao meu filho: “porque você não tomou o elevador ou o teleférico”? ____ E Deus deve pensar pesaroso: “Agora tenho duas tarefas: curar tua alma e curar teus joelhos!”
Somente o sincero arrependimento pode anular o pecado (o erro, a falta). Mas não precisa e nem é aconselhável que venha acompanhado de imolações. Isso é o amargo fruto da ignorância.
O arrependimento é como a água, o pecado é como a sujeira. Quando a “água” lava a “sujeira” ambos desaparecem e o que ressurge é a imagem original. Que neste caso: a alma pura do individuo criado por Deus. E para Ele é o que importa.
Que proveito há para um pai o sacrifício ou penitência de seu querido filho? Fazer o que com essa “oferenda”?  Ela não tem serventia nem para provar o arrependimento do filho, nem para resgatar a sua culpa. Muito menos para agradar um pai.

Somente o amor é oferenda. O sincero arrependimento é manifestação do amor de Deus que constitui a nossa alma original. Jesus disse tão somente: “vá, e não peques mais!” Ele não recomendou penitencia alguma. Quando surge o arrependimento, no mesmo instante reluz essa alma divina em nosso interior... E Deus “sorri” no ritmo do nosso alivio. Este é o sintoma do perdão.

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