Silvio Marques
Parte desta fábula me veio aos sentidos através de um sonho na madrugada do dia 27-junho-2002.
Certa senhora ao sentir que sua vida estava muito sombria, muito triste, resolveu consultar um sábio. Ainda que sem muita convicção, dirigiu-se então para a floresta onde, numa pequena cabana, habitava aquele a quem ela procurava. Próximo a cabana encontrou-o “meditativo” sentado num tronco de árvore. Então se aproximou, cumprimentou-o; mas sem que ela dissesse mais nada, o sábio, observando a sua tristeza, se adiantou perguntando:
___ O que deseja, “feliz senhora”?
___ Feliz? Eu? Quem me dera fosse! ___ disse ela surpresa, mas com seu habitual ar de desanimo ___ Eu venho aqui justamente para consultar-lhe sobre o que devo fazer para que a minha vida adquira algum brilho; tenha algum sentido para que eu possa sorrir e ser feliz enfim!
Enquanto eles conversavam, um lindo rouxinol pousado numa árvore ao lado, alheio a tudo enchia o ar da floresta com seu sublime canto. O sábio então, olhando serenamente para aquela triste senhora, surpreendentemente soltou um sonoro “pum” que ecoou “solene” no silencio da floresta.
A senhora naturalmente sobressaltou-se com esta atitude. Isto não é postura digna de um homem de luz. ___ Pensou. ___ Mas o sábio, calma e pausadamente perguntou-lhe:
___ A senhora ouviu bem?
___ Sim! ___ disse ela rispidamente___ ouvi muito bem!
___ E o que foi que a senhora ouviu? ___ consultou-lhe o amável sábio.
___ O senhor soltou um “pum”! ___ disse ela com muita indignação.
E o sábio então lhe disse:
___ Não me admira a senhora não ter alegrias na vida! Ouviu de mim um breve e indesejável “ruído”, e indignou-se substancialmente. Mas não se deliciou, nem mesmo prestou atenção no lindo cântico deste pássaro, que ha muito tempo canta ao nosso lado anunciando gratificado as dádivas que Deus lhe deu! ___ e completou ___ Aqueles que se assustam com as tempestades e os trovões, mas não se encantam com a beleza de um nascer ou pôr do sol, não tem sintonia com a felicidade; não pode mesmo sorrir!
E prosseguiu ___ Senhora, se tentar contar os peixes que nadam no oceano, logo vera que é impossível contá-los. Assim também será se tentares contar as alegrias que já tivestes na vida.
___ Há pessoas que choram a vida toda pela perda de um dedo; mas em momento algum agradece os outros dezenove. Eles representam dezenove motivos de alegrias. E até mesmo aquele que se foi, é motivo de alegria também. Porque, enquanto esteve com aquela pessoa, aquele dedo foi, certamente, muito útil! Devemos, pois, agradecer por isto! Um coração de gratidão é uma alma Feliz!
E completou com alguma ironia___ Não esqueça, Feliz Senhora... De agradecer os seus ouvidos também!